Marcelo Gonçalves
Fragmentos de Memórias, Set 2019/Jan 2020
Sinopse:
Plantando fragmento a fragmento até trazer novamente a essência de um espaço que há uns anos transbordava vida. Árvore, a árvore até não voltar a ver o cimo da montanha. O desenrolar desta ação fez me relembrar de alguns acontecimentos que marcam a minha infância e desse modo a ideia foi criar umas estruturas feitas em pedra e derivados em volta das plantações para simbolizar essas memórias. Ao entrar no espaço nos convertemos numa parte insubstituível do mesmo, materializamos a memória de uma experiência, a frieza de um espaço que se perdeu entre as chamas.
Desenvolvimento:
O tema que eu vou explorar ao longo deste ano define se a partir de memórias que eu tenho da minha infância sendo ela marcada particularmente pela Natureza. Relembrar da Infância, é algo divino, eterno aos pensamentos de quem fez acontecer da melhor forma possível, mesmo sem saber que a melhor forma era aquela para se viver ... pois apenas queria viver um momento que seria eterno, mesmo sem saber que seria eterno nas nossas lembranças ... para mim bastava o sentimento de apenas querer vivencia-lo. Lembrar de minha infância não significa apenas fazer relatos de acontecimentos e fatos passados. Significa mexer numa série de sonhos, sentimentos, emoções, sensações de medo e insegurança… Lembrar do passado é recordar as brincadeiras na minha casa da árvore, e na natureza que a rodeava, … cheiros e sabores de tamanha importância que ficaram gravados na minha memória. Lembro-me perfeitamente da paisagem que todos os dias eu me apaixonava, sentia que era um vigilante do meu povo…
Trazer estas palavras para o presente faz-me pensar que a minha vida se “transformou” em algo que não é vivido com a mesma intensidade. Eu penso que uma das palavras que pode definir os dias de hoje é velocidade. Cada vez mais recebemos e enviamos informação com imensa rapidez, nós próprios nos deslocamos gradativamente com maior velocidade, quer seja de carro, comboio, ou até mesmo no caminhar apressado para não chegar atrasado, pois o tempo parece estar sempre à nossa frente. É nesta mesma velocidade que acabamos por ignorar aquilo que nos rodeia, o que está estático ou, pelo menos, o que não nos acompanha à mesma velocidade e o ritmo da Natureza é sem dúvida diferente, e, como tal, para admirarmos e contemplarmos a Natureza teremos que abrandar, e tentar acompanhar o seu ritmo. Dessa maneira, o espaço que nos rodeia começa a ganhar forma, identidade..., as árvores começam a ganhar individualidade, e as suas características físicas diferenciam-nas umas das outras, a poluição sonora das cidades diminui e os sons da Natureza acentuam-se, a nossa mente solta-se, a nossa respiração torna-se rítmica e meditativa, e a energia do lugar é vivida e absorvida. É neste pensamento que a minha infância se traduz, no qual uma sensação de terror surge por se deparar com algo que vai para além do lógico e compreensível, e da qual segue um deslumbramento da possibilidade de experienciar algo que não pode ser perfeitamente representado e definido. A linguagem do meu espaço pode ser falada, lida e imaginada. Falada e lida através das formas de viver- o movimento, o toque, o comer…-e estratégias de sobrevivência- criando um refúgio, explorando o que nos rodeia, sempre à procura da imprevisibilidade. Os Fragmentos não são os protagonistas, mas sim o espaço dinâmico criado pelas minhas ações que se desenrolaram em torno deles.
Referências:
-Robert Morris
-Robert Smithson
-Dêcosterd & Rahm
-Casagrande & Rintala
-Christo & Jeanne Claude
-Mary Miss
-Richard Long
-Richard Serra
-Walter de Maria
-Peter Eisenman
Referências Bibliográficas:
- Krauss, Rosalind. “Caminhos da escultura moderna/ Rosalind Krauss; trad. Julio Fischer. São Paulo,2001 ISBN 85-336-0958-2 Editor Martins Fontes
- Espanha, Ministério de Cultura. “ Piedras: Richard Long/ Ministério de Cultura, Dirección General de Bellas Arte y Archivos” Madrid, 1986 ISBN 84-7483-436-8 Editor Ministério de Cultura
- Galofaro, Luca. “Land&ScapeSeries: Artscapes.Art as an approach to contemporary landscape”, ISBN 10: 8425218438 ISBN 13: 9788425218439 Publisher: Editorial Gustavo Gili, 2003
- Beardsley, John. “Earthworks and beyond: contemporary art in the landscape”. Expanded ed. New York, 1989 ISBN 0-89659-963-9 Publisher: Editorial Abbeville Press
- Spirn, Anne Whiston. “ The language of the landscape/ Anne Whiston Sprin. New Haven 1998. ISBN 0-300-08294-0 Editor Yale University Press
Linhas sem sentido, Mar/ Jul 2020
Sinopse
Estes projectos foram realizados a partir de um conceito familiar com o movimento da Land Art: olhar para a paisagem como matéria. Neste sentido, desdobrando todas as irregularidades presentes na natureza, encontrar cada detalhe como um princípio de criação: toda uma retórica em ação. Criar um laço necessário com os elementos que têm uma grande carga histórica e que são absorvidos pela natureza ao passar do tempo. E através disso, as estruturas se convertem numa visualização simbólica de uma ação quando entra em jogo com a natureza do espaço e com as suas especificidades.
A ideia é procurar um diálogo que se alimenta das ações, das memórias e da natureza, transformando-as em conceções espaciais. Assim, este conjunto de projetos, se define a partir de um longo processo de registos (diário de campo) e sempre acompanhado por uma mediação sumária de algumas construções que se destacam no espaço físico, concedendo desse modo a escala de representação dos projetos.
Desenvolvimento
Neste sentido, o meu projeto se baseia em registos diários de cada detalhe, seja ele importante ou não, presente no local onde realizei os meus trabalhos. Através de um diário de campo e as longas caminhadas pelo espaço, fui percebendo que é necessário reforçar esta ligação do meu ser com a natureza. Quando se está num espaço natural há sempre aquela sensação de estarmos perante forças vivas, forças em movimento que continuamente interagem connosco e nos apela a uma interação.
Assim, comecei a explorar as matérias do espaço como a terra, a pedra, elementos das árvores como por exemplo a casca do pinheiro bravo ou até pequenos ramos que eram ignorados pelos lenhadores, etc. Em relação ao meu diário de campo, estava dividido em vários elementos: tinha um sumário, um horário do dia, desenhos e por fim uma reflexão do dia. Todos os dias em que comparecia no espaço teria essa missão para com o trabalho.
Dia 7 de março
Registos diários
Dia 14 de março
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 1)
Registos do segundo trabalho (dia 1)
Dia 17 de março
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 2)
Registos do segundo trabalho (dia 2)
Dia 20 de março
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 3)
Registos do segundo trabalho (dia 3)
Dia 22 de março
Registos diários
Registos do terceiro trabalho (único dia)
Dia 23 de março
Registos diários
Registos do quarto trabalho (dia 1)
Dia 30 de março
Registos diários
Registos do quinto trabalho (dia 1)
Dia 31 de março
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 4)
Dia 13 de abril
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 5)
Registos do quarto trabalho (dia 2)
Registos do quinto trabalho (dia 2)
Dia 23 de abril
Registos diários
Registos do primeiro trabalho (dia 6)
Registos do segundo trabalho (dia 4)
Dia 4 de maio
Registos do primeiro trabalho (dia 7)
Registos do segundo trabalho (dia 5)
Registos do quarto trabalho (dia 3)
Ao longo deste protejo, começou a surgir um interesse pelas maquetas digitais pois sentia que o protejo precisava de dar um passo à frente e quebrar certos limites a nível dimensional. E então surgiram novos projetos.
Linhas sem sentido: à deriva pelas montanhas, abr/jul 2020
No mesmo âmbito do projeto " Linhas sem sentido: à deriva pelas montanhas", criei outras estruturas em novos locais:
-Pretarouca, Viseu
- Rio Poio, Ribeira de Pena, Cerva
Linhas sem sentido: um caminho de raízes, jun/jul 2020
Linhas sem sentido: a visão entre as montanhas, mai/jul 2020
Linhas sem sentido: a minha divisão, jun/jul 2020